POR GILSON SANTOS
Em algum lugar ao redor do mundo, em algum tempo no futuro, um escriturário está cumprindo o seu expediente no balcão de um Cartório de Registro Civil:
“O próximo, por favor.”
“Bom Dia. Nós queremos dar entrada nos papéis para o casamento.”
“Nomes?”
“Pedro da Silva Pereira e João da Silva Pereira.”
“Silva Pereira? Vocês são parentes? Posso ver que se parecem fisicamente.”
“Sim. Somos irmãos.”
“Irmãos? Mas vocês não podem se casar!”
“E por que não? A lei já não contempla o matrimônio de casais do mesmo gênero? Sabemos, inclusive, que muitos têm tido seus registros aqui neste tabelionato.”
“Sim, milhares! Mas nós nunca tivemos casamentos entre irmãos. Isto seria incesto!”
“Incesto? Não! O senhor está equivocado. Nós não somos gays.”
“Não são gays? Então, por que querem se casar?
“Pelos benefícios financeiros, é claro. E, além disso, nós nos amamos, e não temos nenhuma outra pessoa em vista para o casamento.”
“Infelizmente, senhores, nós somente lavramos o registro de casamento de gays e lésbicas para quem a igualdade de proteção legal tem sido negada anteriormente pelas autoridades judiciárias. Se vocês não são gays, podem se casar com mulheres!”
“Um momento! Um homem gay tem todo o direito de casar-se com uma mulher, assim como eu também tenho. Entretanto, simplesmente porque eu sou hetero, não quer dizer que eu queira casar-me com uma mulher. Eu quero me casar com João, meu irmão.”
“E eu quero me casar com Pedro. Este cartório vai nos discriminar simplesmente porque não somos gays?”
Aproxima-se o Oficial do Cartório, e intervém:
“Está bem, está bem! Acalmem-se, senhores. Vamos dar entrada nos papéis e fazer correr os proclamas.”
“Próximo, por favor.”
“Olá. Estamos aqui com o propósito de casarmos.”
“Nomes?”
“Rodrigo Santos, Jane Vilela, Roberto Madureira e Maria do Rosário.”
“E quem vai casar com quem?”
“Todos nós queremos casar uns com os outros.”
“Mas como é isto? Vocês são quatro pessoas!”
“Sim, está certo. Mas, veja, somos os quatro bissexuais. Eu amo a Jane e ao Roberto, Jane ama a mim e a Maria, Maria ama o Roberto e a Jane, e Roberto ama Maria e a mim. Se todos nos casarmos será a única maneira em que poderemos expressar nossas preferências sexuais em um relacionamento matrimonial.”
“Senhores, infelizmente só procedemos o registro de casamento para casais de lésbicas e gays.”
“Mas isto é uma discriminação contra as pessoas bissexuais? Por que não podemos nos casar?”
“Infelizmente é assim mesmo, senhores. Bem... a idéia tradicional do casamento é apenas para casais.”
“E desde quando vocês se regulam e se determinam pela tradição?”
“Bem, o que quero dizer é que a gente tem que estabelecer o limite em algum lugar.”
“De acordo com quem? Não existe uma razão lógica para se limitar o casamento a um casal. Quanto mais, melhor! Além disso, nós reivindicamos os nossos direitos! As nossas autoridades afirmam que a Constituição garante igualdade e proteção legal a todos os cidadãos. O senhor queira, por gentileza, fazer correr os nossos papéis para o casamento!”
O Oficial do Cartório, agora mais atento, aproxima-se novamente, e arremata:
“Está bem, está bem! Será feito, senhores. Fiquem tranqüilos! Aceitam um cafezinho?”
O escriturário, sentindo-se constrangido, e de cabeça baixa e olhos pregados nos papéis, prossegue:
“O próximo, por favor.”
“Nomes?”
“Daniel Costa e Paulo Ricardo Gonçalves”
“Até que enfim um casal normal...!”
“Idades?”
“Daniel , 48 anos, e Paulo Ricardo, 13 anos”.
O escriturário levanta a cabeça e ajeita os óculos.
“Mas isto não é possível, senhor. Este menino é só um adolescente!”
“E qual o problema?”
“Bom...”
O escriturário olha para o Oficial, como a pedir socorro.
“O casamento produz a emancipação do menor, senhor. Já não é assim nos casamentos de heterossexuais?"
“O menor trouxe a assinatura dos pais ou responsáveis?”
“E é preciso?! Não basta apresentar as testemunhas? Elas estão assentadas ali...”
O escriturário já tem o pescoço meio virado para a mesa do Oficial, enquanto Daniel, à frente, repousa o seu braço sobre os ombros de Paulo Ricardo, que está igualmente expectante pela resposta.
“Por favor, dirijam-se àquela extremidade do balcão e resolvam este caso com aquele senhor lá adiante...”
“Próximo”.
“Nome?”
“Davi Januário Assunção.”
“E o outro homem?”
“Sou somente eu. Eu quero me casar comigo mesmo.”
“Casar-se consigo mesmo? O que você quer dizer com isto? Está maluco?”
“Bem, meu analista disse que eu tenho dupla personalidade. Então, quero casar as duas personalidades. Talvez, desta maneira, eu possa fazer uma declaração conjunta de Imposto de Renda e aumentar a minha restituição.”
A esta altura, foi o escriturário que quase teve um surto psicótico, e extravasou:
“Chega! Eu desisto!! Vocês estão fazendo pouco caso do casamento!!”
E, confuso, ele já não sabia mais se poderia oferecer alguma definição do que seja casamento... Aproveitou, e pediu ao Davi::
“Você pode me indicar o seu analista?... Aliás, vocês... xiii”.
"Mais tarde! Pois a fila continua imensa e crescente, e sabe-se lá o que ainda vem por aí."
Como foi dito, a situação acima é inteiramente ficcional ou fictícia. Entretanto, talvez alguém se pergunte: "E isto poderia tornar-se realidade?" O que você acha?
Por Gilson Santos, postado no blog do Hermes C. Fernandes.
Do jeito que as coisas vai, não duvido que não venha acontecer. Paz!
ResponderExcluirGraça e Paz ao irmão e toda a sua famlimia!
ResponderExcluirQue o SENHOR continue abençoando mais e mais o seu ministério,o qual gostei muito, uma vez que se destingue do meu. Por isso consegui vê-lo em relevo...
Quanta idiotice.
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